O AUSTA hospital realizou, na sexta-feira (7 de dezembro), procedimento cardíaco inédito na região noroeste do estado de São Paulo.
A equipe do AUSTAcor – Serviço Especializado de Hemodinâmica inseriu, via cateter, no coração de uma paciente de 82 anos, o dispositivo chamado MitraClip para corrigir falha no funcionamento da válvula mitral (insuficiência mitral), que compromete a circulação de sangue pelo corpo, causando sintomas como cansaço, falta de ar e inchaço nos pés e tornozelos.
O procedimento para corrigir a insuficiência da válvula mitral foi feito pela equipe médica formada pelos cardiologistas intervencionistas Luiz Antônio Gubolino, Márcio Santos, Antônio Hélio Pozetti e Luciano Trindade, do AUSTAcor, os anestesistas Amadeu Cherubini Neto e Guilherme Saccani, do AUSTA hospital, o cardiologista intervencionista Rodrigo Guerreiro, da Casa de Saúde São José, do Rio de Janeiro (RJ), e os ecocardiografistas Murilo Jardins Carvalho, do Hospital da Unimed, de Vitória (ES), e Luiz Carlos Silveira, do Incor Rio Preto.
Segundo dr. Gubolino, o procedimento é considerado a melhor alternativa para tratar a insuficiência da válvula mitral em pacientes de idade avançada, com alto risco para se submeter à cirurgia cardíaca e/ou portadores de câncer ou problema pulmonar.
“É o ideal por ser minimamente invasivo, ou seja, por não necessitar abrir o tórax, diferentemente da cirurgia convencional, que oferece risco maior para estes tipos de pacientes, sendo, às vezes, até contra indicado”, afirma o cardiologista intervencionista do AUSTAcor.
A insuficiência ocorre quando os dois folhetos que compõem a válvula mitral ficam flácidos e não fecham adequadamente, permitindo que o sangue retorne ao átrio esquerdo do coração.
“Os folhetos funcionam como aquelas portas típicas de bares do velho oeste. Quando funcionam mal, o sangue volta para o átrio esquerdo e impede que o fluxo que vem do pulmão já oxigenado faça o caminho normal, causando falta de ar”, explica dr. Márcio Santos.
No procedimento realizado na sexta-feira, os médicos fizeram um corte de cerca de 3 milímetros (chamado punção) na veia femoral, na altura da virilha, por onde introduziram o cateter que levou o MitraClip, a estrutura milimétrica em cuja extremidade havia uma espécie de clipe, semelhante a um prendedor de roupa. Quando alcançada a válvula mitral, o médico aplica o clipe e prende os dois folhetos em sua porção central, permitindo o fluxo sanguíneo, porém, sem que retorne ao átrio esquerdo. Todo o percurso do cateter, desde a virilha até o coração, é controlado por imagens de ultrassom (ecocardiograma) e radioscopia, partir da sala de hemodinâmica.
O que é insuficiência valvar mitral
A insuficiência valvar mitral é uma das doenças valvares adquiridas mais comuns. Ocorre em cerca de 7% da população com mais de 75 anos.
“É uma doença debilitante, progressiva e de risco à vida. A condição pode aumentar o risco de alterações dos batimentos cardíacos (arritmias), tornando-os irregulares, de acidente vascular cerebral e insuficiência cardíaca”, adverte dr. Rodrigo Guerreiro. “A cirurgia de válvula mitral cardíaca aberta é o tratamento padrão para esta insuficiência, mas justamente para os idosos oferece risco maior. As medicações são limitadas a reduzir sintomas e incapazes de interromper a progressão da doença”, complementa o cardiologista intervencionista.
Mais de 25 mil pacientes se beneficiaram deste procedimento em todo o mundo. No Brasil, o MitraClip foi aprovado para uso em 2014. Estudos clínicos, relatórios publicados e registros de pacientes tratados com este dispositivo demonstraram, de forma consistente, um perfil de segurança positivo, redução na regurgitação mitral e melhora em sintomas como falta de ar, fadiga e exaustão, entre outros.
Depois do procedimento, os benefícios para o paciente também são significativos. A internação hospitalar é de, no máximo, dois dias, enquanto a cirurgia exige, no mínimo, sete dias de permanência no centro médico.
“O novo procedimento realizado pelo AUSTA hospital ganha maior relevância diante do envelhecimento da população brasileira. A expectativa de vida aumentou significativamente no país nos últimos anos e técnicas minimamente invasivas para patologias complexas são de extrema importância para beneficiar esta faixa etária da população”, pondera o cardiologista e diretor presidente do Grupo AUSTA, dr. Mário Jabur Filho.
A estimativa da OMS (Organização Mundial da Saúde) é que o Brasil tenha a sexta maior população de idosos no mundo em 2025, quando deve chegar a 32 milhões de pessoas com 60 anos de idade ou mais.
“Isso significa que as pessoas estão vivendo mais, porém, as chances de o indivíduo desenvolver doenças crônicas também são mais altas, especialmente as cardiovasculares, principal causa de morte no país”, afirma dr. Paulo Nogueira, cardiologista do Incor Rio Preto, responsável pelo acompanhamento clínico da paciente.
MitraClip
Figura 1. Dispositivo MitraClip (esquerda) e seu sistema de entrega (direita). Cada braço (A) do clipe tem 4 mm de largura e 8 mm de comprimento. Os grampos (B) são utilizados para prender os folhetos da valva mitral nos braços do clipe. O cateter direcionável tem 24 F e conta com manobradores (C e E) para orientar e posicionar corretamente o clipe. O estabilizador (D) é utilizado para apoiar o sistema de entrega do MitraClip.